A minha renúncia de nós dois

O vejo e meu primeiro pensamento é sempre o de me questionar porque estou perdendo tempo reparando em alguém que nem admiro tanto assim. Percebo que até temos algumas poucas coisas em comum, mas que não justificam essa procura involuntária que meus olhos fazem sempre que ele passa.

Parece que foi ontem que meus olhos cruzaram com os dele pela primeira vez. Tinha um olhar forte e mesmo sem entender o porquê, me deixou sem graça, me forçando a desviar para o outro lado. Não demorou muito e pude vê-lo em movimento, falando e teorizando. No fundo eu achava uma graça a maneira com que contava histórias, tinha uma leveza ritmada na fala, um humor peculiar. Me perdia no conteúdo, às vezes, prestando atenção em cada movimento da sua boca e em como piscava os olhos grandes. Acordava do meu próprio delírio e me censurava por te olhar daquele jeito, desdenhando mais uma vez.

Foi de tanto vê-lo por aí, distribuindo o seu discreto charme com outras garotas, que me dei conta de que sentia levemente incomodada. Na verdade, até mais do que levemente. Ele me seduzia, até mesmo quando sequer me dirigia a palavra. E se me deixava assim sem nem falar comigo, certamente aquelas com que tem contato deviam estar completamente encantadas.

As semanas passavam e aquele sentimento foi tomando forma dentro de mim. Tínhamos um encontro marcado e ele nem sabia. Muitas vezes eu queria estar ali só por saber que iria vê-lo falar. Mas quanto maior a vontade de estar perto, mais eu negava para mim mesma. Ria por dentro do que eu sentia quando o encontrava por acaso nos corredores, um frio na barriga que me deixava meio tonta, meio adolescente, sem saber como agir. A verdade é que eu já não queria mais disfarçar o estranho desejo de querê-lo para mim.

Até que chegou a hora de admitir certas coisas, não para ele ou para o mundo, mas para mim mesma. Entender esses motivos que me levaram a questionar e negar esse sentimento que hoje é tão evidente e aceitar que durante todo esse tempo, tudo o que fiz foi me sabotar.

 Hoje me parece tão óbvio que olhei diferente para ele desde o primeiro dia, que chega a ser engraçado perceber o tamanho do esforço que fiz pra tentar me convencer de que ele não era alguém importante pra mim.

Que sorte a minha perceber em tempo e poder tê-lo comigo agora! Parecia irreal poder sentir tuas digitais passeando por mim e teus sentidos entregues aos meus, mas estava acontecendo. Eu não sei mais esconder a vontade de estar enrolada no teu abraço. Não sei mais fingir que quero tatear teus caminhos por todos os dias que puder e que desde que senti o gosto do teu beijo, tudo de você impregnou em mim. Eu simplesmente sou incapaz de continuar negando o desejo de me transportar para o mundo inteiro que mora em você, com todos os danos que possam existir dentro dele. Vem, que paz e afeto não vão te faltar! Que eu não consigo mais guardar essa coisa sem nome e sem explicação que acontece aqui dentro quando você está perto. Diz que quer nossas conversas raras em cada dia teu, pois cada palavra tua preenche cada dia meu. Diz que quer entrar no meu encaixe, porque eu não consigo mais esconder que foi esse querer que me fez despertar para a vida. Me aceita mesmo depois de confessar que por muito tempo eu não quis te querer apenas por medo de me entregar.

Garoto, desculpa minha confusão. Eu só queria te dizer com tudo isto que todos os meus nãos terminaram quando nossa história começou…


Esse texto foi escrito em parceria com meu amigo do coração Cauê Bonici, autor do blog Sintografia. Agradeço sempre por nossa sintonia incrível e por ter a honra de escrever com você, compartilhando nossas ideias sobre amores e relacionamentos. Obrigada por mais esse! Que nossas conversas de bar sempre rendam ideias lindas como a desse texto!

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Publicado por

Ariane Aleixo

Preciso me encantar diariamente... Pelas coisas, pelas pessoas, pela vida. Protetora independente de animais abandonados. Retirá-los das ruas e dar a eles uma nova chance de vida me traz sorrisos gratuitos. Graduada em Direito, mas acho a burocracia das leis um saco. Estudante de Psicologia, amante das loucuras alheias, tentando entender as minhas próprias. Me reencontro, me realizo, me reavalio todos os dias! Cheia de questionamentos e argumentos sobre tudo. Sonhadora nata, vejo a vida com muitos balões coloridos. Se a vida não tiver emoção, se não for intensa, se não der frio na barriga, então que graça tem? Estou nas palavras, mas estou, sobretudo, nas entrelinhas...

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