Humanamente Vendaval

Já é de manhã e o pensamento não para de trazer seu rosto. De tantas coisas e pessoas que passam pela nossa vida, algumas simplesmente permanecem com mais força. Não sei de onde você veio, o que moveu sua vida até aqui, qual a sua história e o que faz seus olhos brilharem no mundo. Mas sei que te vi naquela tarde e imediatamente cintilou um brilho diferente em mim. Me pegou numa distração, pareceu tão intocável naquele pedestal distante. Tinha o olhar perdido no meio da multidão, mas ao mesmo tempo tão compenetrado no que fazia. E mesmo sem me olhar diretamente, soprou para dentro de mim uma vontade de te experimentar, de entender o mistério embaixo dos cabelos encaracolados e da barba cheia de estilo, dos olhos grandes e sorriso largo que parecem querer abraçar o mundo, cheios de poesia e doçura.

Como explicar esse sentir por alguém que vi uma única vez? Tem gente que chega e não arreda mais pé de dentro, mesmo sem querer, causa um reboliço bom na alma e não dá mais pra arrancar. Vem feito ventania brava e arrasta tudo junto, indomável, ser de lua em suas tantas fases, que desconcerta e me deixa sem saber o que fazer para conseguir que venha para perto, que possa ser meu apenas para me dissolver em pedaços de você.

Foram tantos acordes me penetrando, mas de forma tão fria que minha solidão quis segurar você. Quis te mostrar que é melhor a dois em qualquer embalo, mas se formos nós.

Algo me diz que você é meu próximo erro. E mesmo assim eu quis. O que antes estava tão longe, agora estava ao meu lado, mas tão intocável quanto. Era como sonhar com um oásis em meio ao deserto, sem chance de matar a sede. O timbre da sua voz doce ecoava dentro de mim como se quisesse arrancar toda a minha roupa, sentindo minha respiração descompassada sem saber exatamente o tom para o seu ritmo, desejando que essa canção fosse sobre nós.

E quando eu já não acreditava mais, depois de sentir de perto sua respiração quente com o meu corpo implorando para que você quisesse, você quis. Eu ainda desconcertada, reagi ao seu toque e tentei me refazer depressa para conseguir me entregar do jeito mais especial pra você. Não precisei me esforçar muito, nosso encaixe se deu meio afoito, meio novo, meio nervoso e meio brusco, mas cheio de perfeição dentro do quanto eu te queria. Dentro do medo de te transpassar, estavam meus beijos em busca de te sentir em cada linha do teu contorno, meu toque firme e aflito desejando que cada parte sua absorvesse toda parte minha.

Ouvi no que você cantou algo sobre o que se sente entre o insano e o essencial. Acho que é exatamente assim que eu tento te descrever no meio das minhas palavras soltas que procuram suas entrelinhas para desvendar. Eu até que gosto de um tumulto, mas como fui ficar assim por alguém que eu nem conheço e já fez tanta bagunça?

Senti falta da ideia que é você, mas tive medo de te dizer. Sinto vontade de te virar do avesso e mostrar que posso ser letra das tuas novas canções. Mas como ser a composição de alguém que parece ter o coração tão livre, mas ao mesmo tempo cheio de tanto sentimento guardado, como um diamante precioso esperando para ser lapidado?

Aprendi que bons vendavais só se transformam em calmaria quando estão livres para seguirem a direção que quiserem… E que bom seria se você escolhesse ventar com toda sua vida aqui dentro de mim…


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Drummonidades…

Articulações de idosos não se movem como outrora, ou como nós gostaríamos que se movessem. Principalmente no meu caso, que são feitas de bronze. Eu, Carlos Drummond de Andrade, resido agora (de 7 anos para cá), na praia de Copacabana. Pretendo expor-lhes algo que vem acontecendo comigo com certa frequência.

Na calada da noite, meus amigos, o mesmo larápio de sempre passa por aqui e rouba meus óculos! Meus óculos de bronze! Como eu gostaria de ganhar lentes de contato… O governo do Rio de Janeiro gentilmente repõe a peça, mas o larápio não tarda a voltar e me assalta! Continuar lendo Drummonidades…

Outro alguém

Todos os dias antes de dormir, os pensamentos lhe vêm à cabeça como um furacão de imagens… São tantas e tantas coisas. Se sente confusa, perdida. – Por que não consigo fazer dar certo? – A impaciência é grande dentro de si. Tudo está ali: o início, bons momentos, conquista, felicidade. Quando ele chegou, a encantou. Mudou sua vida como jamais esperava, a tratava de modo incomparável, o olhar era algo indescritível, o toque sensível era único. Ela estava completa e não precisava de mais nada. – Ele é tudo que sonhei!

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