Sobra tanta falta…

Ainda era de manhã e me embolei em meio aos cobertores tentando encontrar um jeito de me sentir protegida. A dúvida era se o frio que fazia vinha de fora ou de dentro.

Tem egoísmo que machuca a gente.

Aperto o travesseiro. Era pra gente ter acordado junto hoje. Foi estranho acordar com a sensação de que falta alguma coisa. Mas falta. Sempre faltou, desde que te conheci. Falta tempo, falta espaço. Falta querer. Ao mesmo tempo sobra tanto. Sobram as conversas tão boas, sobra aquela coisa de pele, sobra química. Sobram as risadas. Sobram os beijos que encaixam e os cheiros que ficam. Sobra a troca do olhar. Mais sobra do que falta. E falta o mais importante.

Eu sei. Desde o começo você disse que não poderia ser mais que isso. Eu disse também. Mas tem hora que a gente simplesmente sente. Tem hora que transborda e se perde o controle.

Eu sei. Foram poucas vezes. Suficientes para serem únicas no meio de tanta gente, no meio de tanta correria. No meio da loucura do mundo eu quis escutar a sua, quis te mostrar a minha.

Ando sozinha pela casa, escuto aquela música que você tanto gosta. Ela fala de amor sem medo. Que medo eu sempre tive de gostar de você, desde o começo! Lembra quando eu te disse sobre reciprocidade? Porque gostar sozinho transforma o sentimento em medo e dor.

Entro no carro, olho para o lado, você não está lá. Fecho os olhos só para ter o gostinho de imaginar e lembrar daqueles dois dias. Um em agosto, outro em novembro. Tem um gosto de cuidado e saudade. Tem gosto de sal na boca, que escorre pelo rosto. A saudade de quem a gente gosta sufoca, imaginando aquele cheiro que transforma qualquer lugar em abrigo.

Não teremos mais isso e é tão injusto. É injusto quando parece que temos tudo pra ser, mas não somos. Não conseguimos. Não nos doamos. Não nos entregamos.

Você escolheu a liberdade do que é líquido, passageiro, momentâneo. Eu tentei. Não consegui. Porque sou sólida, sou permanência. Não quero te dividir, nem que seja de forma casual.

Tem egoísmo que machuca a gente. Tem amor que não acontece que machuca a gente.

Eu poderia sentir culpa por me apaixonar pelos seus olhos grandes. Por me apaixonar pelo seu inconformismo por algumas coisas da vida e aquelas rugas na sua testa quando você joga os argumentos para o mundo transformando em verdades absolutas. Eu poderia, mas não vou. Eu sou mesmo dessas que ao lavar colheres de sobremesa, se molha da cabeça aos pés. Sou dessas que não te deixaria passar porque a vida é uma só, tempo é agora e amor depende só de nós. Sou dessas que te quis por você ser único aos meus olhos, mesmo sendo loucura, mesmo sendo pouco tempo, mesmo você dizendo que é complicado. Sou dessas de entrega. Mas também sou dessas que acredita que quando um não quer…

Não há erro ou acerto. Só a vontade de cada um, momento de cada um. Há quem caminhe com tranquilidade longe do afeto que temos a compartilhar. Há terrenos que não são férteis para que um possível amor floresça. Amor pode até ser entrega sem medo; mas o que não carrega reciprocidade não vinga. E tudo bem. Dói agora. Começa do zero. A vida do outro segue. A nossa segue.

Pra você tem o amanhã. Pra mim era o hoje. E tudo bem… O amanhã serve para curar as dores. O hoje era para preencher de afeto e abraços apertados. Tudo ficará bem.

O amor-próprio cura a gente. Tem amor que não acontece que cura a gente também.


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